o que muitos acham:
que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é
lógico. (...) Ainda bem que o que vou escrever já deve estar na certa de algum
modo escrito em mim. Tenho é que me copiar com uma delicadeza de borboleta
branca. (...) O fato é que tenho nas minhas mãos um destino e no entanto não me
sinto com o poder de livremente inventar: sigo uma oculta linha fatal. Sou
obrigado a procurar uma verdade que me ultrapassa. (...) eu que quero sentir o
sopro do meu além. Para ser mais do que eu, pois pouco sou. Escrevo por não ter
nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
Escrevo, pois sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de
me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente
todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta
dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E
agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui".
(A Hora da Estrela-
Clarice Lispector)

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